A Century 21 Portugal e a Century 21 Espanha apresentaram os resultados de dois estudos complementares sobre os desafios da emancipação jovem no mercado habitacional ibérico. As conclusões são claras: o acesso à habitação continua a ser um dos maiores bloqueios à autonomia dos jovens em ambos os países, sobretudo devido aos preços elevados das casas, rendimentos insuficientes e à escassez de imóveis acessíveis.
Em Portugal, apenas 1 em cada 3 jovens acredita que vai conseguir comprar casa nos próximos anos. Em Espanha, quase metade dos jovens entre os 20 e os 40 anos estima que precisará de entre 5 a 15 anos para o fazer, sendo que 31% dos jovens entre os 36 e os 40 anos acreditam que nunca o vão conseguir.
A situação ibérica evidencia obstáculos estruturais que condicionam profundamente o percurso de vida da nova geração. Se em Portugal o principal entrave são os preços elevados (43%) e os rendimentos baixos (30%), em Espanha estes fatores são ainda mais expressivos: 80% dos jovens apontam o custo da habitação como a principal barreira, seguidos da instabilidade laboral (65%) e da falta de poupança (54%).
“Estes dados mostram que a realidade dos jovens está marcada por desigualdades geracionais profundas. A vontade de sair de casa existe – e é intensa –, mas o sistema não está a responder às suas necessidades. Em vez de emancipada, temos uma geração adiada“, afirma Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal e Espanha.
Habitação continua a ser um sonho adiado
Tanto em Portugal como em Espanha, a vontade de independência é transversal. Em Portugal, quase 65% dos jovens não independentes planeiam emancipar-se nos próximos dois anos e 45% atribuem nota máxima (10 em 10) ao desejo de sair de casa dos pais. Em Espanha, 37% dos jovens gostariam de viver sozinhos, mas acabam por optar por partilhar casa com o parceiro (46%) ou com amigos (20%) por questões financeiras.
Apesar disso, a maioria dos jovens não acredita que os apoios públicos sejam eficazes: apenas 24% dos jovens portugueses consideram os incentivos do Estado suficientes e 65% dos jovens espanhóis afirmam que os apoios raramente se concretizam.
Realidade económica exige sacrifícios e adia projetos pessoais
A juventude ibérica mostra-se disponível para fazer sacrifícios. Em Portugal, 89% dos jovens estão dispostos a abdicar de viagens, lazer e compras para alcançar a independência – um comportamento que espelha o que acreditam que os seus pais também fizeram. Em Espanha, embora essa consciência exista, 58% dos jovens não estão dispostos a abdicar de conforto pessoal, como a compra de telemóveis, plataformas de streaming ou eventos culturais, mesmo sabendo que isso facilitaria a emancipação.
A independência, quando alcançada, também exige esforço: em Portugal, 84% dos jovens independentes renunciaram a algo, sobretudo poupanças (42%) e viagens (37%). Em Espanha, o cenário é ainda mais expressivo: 85% dos jovens emancipados abdicaram de poupanças ou de atividades pessoais.
Arrendar é solução para muitos, mas comprar continua a ser o objetivo
Apesar das dificuldades, o objetivo de comprar casa continua presente. Em Portugal, 32% dos jovens preferem comprar casa com hipoteca, embora a maioria (46%) opte pelo arrendamento como primeiro passo. Em Espanha, a percentagem dos que preferem comprar casa sobe para 39%, atingindo 48% entre os 28 e os 35 anos, enquanto o arrendamento é mais popular entre os mais novos (44% dos 20 aos 27 anos).
Em ambos os países, os jovens privilegiam acessibilidade económica, proximidade a transportes públicos e serviços essenciais, dando menos importância à área da casa. A mobilidade urbana e o tempo de deslocação para o trabalho ou estudo também pesam na decisão: em Lisboa, 27,6% dos jovens consideram as deslocações demasiado demoradas, valor inferior no Porto (22,6%).
Oferta habitacional desajustada à realidade dos jovens
Em Portugal, a maior parte da oferta habitacional situa-se acima dos 300.000€, com apenas 1% dos imóveis disponíveis abaixo dos 250.000€ nas principais cidades. Esta escassez restringe significativamente as opções para os jovens e reforça a necessidade de novas políticas públicas e de incentivo à construção de habitação acessível.
“Precisamos de um novo paradigma habitacional centrado no custo de vida acessível (‘affordable living’) e não apenas na habitação acessível (‘affordable housing’). O problema não é só o preço da casa: é a soma da habitação, transportes, energia e qualidade de vida. É urgente desenvolvermos uma estratégia que articule mobilidade urbana com estabilidade laboral e incentivos à progressão de carreira“, reforça Ricardo Sousa.
Conclusão: uma geração adiada entre o sonho da independência e a realidade do mercado
A análise ibérica conduzida pela Century 21 em Portugal e Espanha traça o retrato de uma geração altamente qualificada, informada e disposta a construir o seu futuro, mas travada por um sistema que continua a falhar nas suas necessidades mais básicas.
A urgência de soluções estruturais e integradas – que promovam a mobilidade, a estabilidade laboral com progressão de carreira, e a construção de habitação acessível – é uma realidade comum a ambos os lados da fronteira.